31.7.09

Nao tenho tempo - texto enviado por Filó (CORAL)

Nao tenho tempo

Sabe, meu filho

Até hoje, não tive tempo para brincar com você.

Arranjei tempo para tudo, Menos para ver você crescer.

Nunca joguei dominó, dama, xadrez

ou batalha naval com você.

Percebo que você me rodeia,

Mas sabe, sou muito importante,

e não tenho tempo!...

Sou importante para números, convites-sociais,

uma série de compromissos inadiáveis...

E largar tudo isso para sentar no chão com você!...

Não, não tenho tempo!

Um dia você veio com o caderno da escola

para o meu lado.

Não liguei, continuei lendo o jornal.

Afinal, os problemas internacionais

São mais sérios do que os de minha casa.

Nunca vi seu boletim.

nem sei quem é sua professora.

Não sei nem qual foi a sua primeira palavra.

Também, você entende... não tenho tempo!...

De que adianta saber as mínimas coisas de você

Se eu tenho outras grandes coisas a saber?

Puxa, como você cresceu!
Você já passou da minha cintura. Está alto!

Eu não havia reparado nisso!

Aliás, não reparo quase em nada.

minha vida é corrida,

E quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora.

E se uso aqui, perco-me calado diante da TV,

Porque a TV é importante e me informa muito...

Sabe, meu filho...

A última vez que tive tempo para você,

foi numa cama, quando o fizemos!

Sei que você se queixa,

Que você sente falta de uma palavra,

De uma pergunta minha,

De um corre-corre,

De um cheute na sua bola.

Mas eu não tenho tempo!...

Sei que você sente falta do abraço e do riso,

Do andar a pé até a padaria para comprar guaraná,

Do andar a pé até o jornaleiro para comprar "Pato Donald".

Mas sabe há quanto tempo não ando à pé na rua?

Mas não tenho tempo!...

Mas você entende, sou um homem muito importante,

Tenho que dar atenção a muita gente,

Dependo delas...

Filho, você entende de comércio!...

Na realidade, sou um homem sem tempo!

Sei que você fica chateado,

Porque as poucas vezes que falamos é monólogo,

só eu falo.

E noventa e nove por cento é bronca:

Quero silêncio, quero sossego!

E você tem a péssima mania de vir correndo sobra a gente,

Você tem a mania de querer pular nos braços dos outros...

Filho, o que você entende de computador,

comumicação, cibernética, racionalismo?

Você sabe quem é Marcuse, McLuhan?

Como é que vou parar para conversar com você?

Sabe, filho,

Não tenho tempo!

Mas, o pior de tudo é que...

Se voçê morresse agora, já neste instante,

Eu ficaria com um peso na consciência,

Porque até hoje

Não arrumei tempo para brincar com você

E, na outra vida, por certo,

Deus não

TERÁ TEMPO de me deixar, pelo menos vê-lo!

AUTOR: nEIMAR DE bARROS

do livro "DEUS NEGRO"

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